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Continuação sobre Ayurveda - doshas e alimentação



Voltando de onde parei no último post sobre o tema (veja AQUI), hoje vou continuar o papo sobre Ayurveda, porém mais focado na alimentação equilibrada de cada dosha. (Se você não tem ideia do que eu to falando, recomendo que leia o primeiro post para fazer sentido).

Então, continuamos.


Senta que lá vem a história.


Segundo a Ayurveda, não só alimentamos nosso corpo, mas também nossas emoções. Portanto, antes de pensar no alimento ideal, tem que se considerar em como devemos consumi-lo para se obter uma digestão eficiente. Basicamente, deve-se buscar seguir um ritual também na hora da alimentação. Segue alguns exemplos:


1. Comer apenas quando sentir fome e parar quando se sentir satisfeito, mas não totalmente cheio;

2. Não comer enquanto sua refeição anterior não tenha sido metabolizada (em torno de duas a seis horas);

3. Sempre comer sentado, se possível em ambiente calmo;

4. Comer fatias de gengibre cru. com uma pitada de sal e gota de limão, quinze minutos antes da refeição, para acender o fogo digestivo (agni);

5. Comer, preferencialmente, alimentos e comidas frescas e da estação, pois assim se mantém sua energia vital e é mais sustentável.


Além disso, deve-se evitar determinados hábitos nesse momento como:


1. Tomar muitos líquidos durante as refeições;

2. Ingerir doces logo após a refeição, pois diminui a digestão de alimentos salgados (esperar uma ou duas horas);

3. Alimentar-se de comidas não adequadas para o seu dosha (veremos quais);

4. Não variar nos alimentos;

5. Comer de forma irregular;

6. Discutir durante a refeição;

7. Ingerir alimentos incompatíveis na mesma refeição ou em intervalo menor de duas horas (também vou falar mais).





Como ter uma refeição completa?

Para se obter uma refeição completa, ela deve ser composta por todos os seis sabores existentes na natureza: doce, salgado, amargo, ácido, picante e adstringente. Por isso é tão tradicional a mistura de temperos e ervas nas comidas indianas. Desse jeito eles conseguem equilibrar todos os sabores, sem ter que acrescentar variados tipos de alimentos em um refeição só. Além disso, os temperos muitas vezes ajudam na digestão de certos alimentos, agindo como "antídotos˜, como falarei mais para baixo.

Pois bem. Como todo o universo é composto dos cinco elementos (água, fogo, ar, terra, éter), os sabores não seriam diferentes. Abaixo, fiz um resumo de onde os encontramos, qual elemento predomina e sua função na Ayurveda.


Doce. Essa sabor pode ser encontrado em diversos alimentos, desde os óbvios, com sabor comumente açucarado (carboidratos), até gorduras e proteínas. Os grãos e frutas, assim como a água e o leite são considerados doces. Esse é o sabor mais dominante de todos demais. É a soma dos elementos terra e água. Tem a função de nutrir e dar forma aos tecidos do corpo


Salgado. Nos alimentos é encontrado no sal, no molho de soja, peixes de água salgada, algas marinhas e carnes salgadas. É a união de água e fogo. Tem a função de sedar e auxiliar a digestão.


Azedo. Provém de alimentos cítricos, como laranja e limão, além dos iogurtes, queijos amarelos, tomates, picles, orégano, bebidas gasosas e alimentos fermentados, como o vinho. É a junção de terra e fogo. Tem a função de estimular o apetite e auxiliar na digestão.


Picante. Encontrado em alimentos como gengibre, pimenta, cebola, alho, mostarda, entre outros condimentos. É união de fogo e ar. Tem a função de estimular o metabolismo, facilitar a digestão, assim como limpar o organismo.


Adstringente. Alimentos ricos em tanino, como os chás feitos das cascas de árvores. A maioria dos legumes e leguminosas possui o sabor adstringente seguidos do doce. Algumas frutas também como maçã, caqui, pera, banana, entre outros. É formado pelo ar e terra. Tem a função de compactar os alimentos, ajudando na formação da massa fecal.


Amargo. É predominante em vegetais verdes e amarelos, como na rúcula, espinafre, agrião, couve de bruxelas, brócolis, berinjela, etc. Também pode ser encontrado na cúrcuma, azeitonas e no café. É feito da união de ar e espaço (éter). Tem efeito anti-inflamatório e desintoxificante.





E como aplicar isso?

É só pensar na teoria dos opostos. Dependendo do dosha predominante que você tem, - que apresenta abundância de um/dois elementos - deve-se comer alimentos que priorizem um sabor que complemente o que falta no seu organismo, para assim atingir o equilíbrio.


  • Vata, por exemplo, deve priorizar os sabores salgados, ácidos e doces e evitar consumo excessivo de alimentos amargos, picantes e adstringentes. Por ser um dosha mais frio e seco, deve consumir a comida mais quente, com molhos oleosos e pesados e evitar substâncias estimulantes como café, chocolate, mate e guaraná, que os deixam mais aéreos do que são.


  • Pitta já deve priorizar os sabores doce, amargo e adstringente, evitando alimentar-se de açúcar branco, café, álcool, assim como alimentos picantes, salgados e ácidos por ter a regência do fogo. Além disso, preferencialmente, deve consumir comidas mais secas, leves e refrescantes, sem excesso, mas buscando saciar-se já que tem um metabolismo mais rápido.


  • Kapha, por fim, deve priorizar sabores amargo, adstringente e picante, e evitar o excesso de comida, de modo geral, principalmente açúcar, bolos, molhos, até porque tem metabolismo mais lento e facilidade em engordar. Deve preferir consumir alimentos mais mornos, secos e leves, comendo em horários já pré-definidos e sem pausa para pequenos lanches.


Que alimentos são incompatíveis?

Aqui se encaixam não aqueles que não são adequados ao seu dosha, mas sim, combinações que devem ser evitadas ao máximo por prejudicarem o processo de digestão para todos. É importante destacar que se você já consume algumas dessas combinações há algum tempo é normal que não sinta nenhum desconforto. Isso porque o desequilíbrio interno, apesar de existir, não emite mais sinais para o seu corpo pois já se encontra intoxicado, o que é muito ruim. Como já falamos, uma má-digestão resulta em ama (resíduos tóxicos), que, por fim, é uma das fontes do aparecimento de doenças.

Alguns exemplos são:


1. Ghee com mel, nas mesmas proporções.

2. Frutas frescas com outros alimentos (a acidez atrapalha a digestão).

3. Leite com peixe, carne, ovos, alho, banana e frutas cítricas.


Alimentos que não existem.

Outro conceito muito legal desta sabedoria milenar é que algumas substâncias, por não serem provenientes da natureza, de forma simples e pura, simplesmente não são considerados alimentos. Aqui se encaixa os superprocessados, - comida em foram adicionadas substâncias químicas para maior conservação, realçantes de sabor, adoçantes sintéticos, etc. Não é comida, por exemplo:


1. Margarinas

2. Leite em pó

3. Sorvetes artificiais

4. Alimentos transgênicos

5. Refrigerantes


Antídoto dos alimentos:

Esse assunto é muito interessante e tem muita ligação com compensadores dietéticos na refeição (termo criado pela nutricionista Cris Tozzo com conceito retirado do incrível livro dela como sendo "alimentos, nutrientes ou fitoquímicos utilizados com a finalidade de compensar a ingestão de substância tóxica ou maléfica ao corpo, diminuindo a carga glicêmica da refeição, quelar metais pesados, diminuir o estresse oxidativo pós refeição ou diminuir a absorção de gorduras ou colesterol").

De acordo com a Ayurveda, o consumo de alguns alimentos poderá acarretar resultados prejudiciais ao nosso corpo, seja por desequilíbrio com o nosso dosha, como por qualquer outro motivo de desconexão com o ambiente, ações, pensamentos, etc.

Para minimizar os efeitos negativos, esta sabedoria indica algumas especiarias/substâncias específicas que auxiliariam na digestão de cada tipo alimento, em tese, prejudicial. Além disso, as próprias especiarias seriam (e nós sabemos que são!) grandes fontes de nutrientes, com propriedades antioxidantes, razão pela qual devem ser consumidas regularmente. Alguns exemplos:


1. Café - noz moscada ou cardamomo

2. Ovos - salsa, coentro, cebola ou açafrão

3 Álcool - cominho

4. Maçã - canela

5. Carne vermelha - pimenta ou cravo

Com toda essa breve informação, fica claro que os fundamentos e recomendações desta sabedoria são muito lógicos e batem com muitas coisas que já sabemos atualmente sobre nutrição (aprendidas no personal chef, lembrando que não sou nutri!), mesmo que à época em que foi criada, não se tivesse comprovação científica para tais conclusões. Isso mostra a sabedoria daqueles que iniciaram o conceito da Ayurveda e do grande poder de observação desses mestres pioneiros, sejam dos seus próprios corpos, sentidos, sensações, como dos ritmos da natureza e suas compensações naturalmente necessárias, conceitos que estão diretamente conectados (nós somos e fazemos parte do universo, afinal).


Por fim, tenho que ressaltar que não posso passar cardápios por aqui, com recomendações para cada dosha pois não sou nutricionista. Da mesma forma não poderia colocar aqui as sugestões fornecidas pelos livros que li, por uma questão legal de proteção de direitos autorais.

Se você se interessou pelo tema (que era o meu objetivo), recomendo que você compre os livros que mencionei no primeiro post, pois são muito ricos em detalhes sobre o tema, além de ser uma leitura gostosa e interessante. Alguns, inclusive, explicam muito mais sobre o que envolve a Ayurveda, que vai bem além da alimentação. Ela se aplica nos exercícios físicos e respiratórios, nas massagens, na meditação, na estabilidade emocional, nas relações interpessoais, etc.


Com base no que estudei e pratiquei nos livros e no curso, no próximo post sobre Ayurveda, vou passar três receitas deliciosas que eu elaborei. Elas serão compatíveis com cada dosha, e, consequentemente, trarão benefícios para saúde (exceto em casos de restrição, sempre deixando claro a individualidade de cada um).

Até o próximo post.

Com amor,

Luísa.

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